Alguns livros, mesmo os não tão bons, têm partes que, por motivos diversos,

nos tocam mais profundamente. Esse blog é para colocar essa parte à parte.

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Identidade

"Para Lacan, todas as identidades são equivocadas, no sentido de serem superficiais, parciais. Nós as usamos para funcionar no mundo, mas precisamos sempre lembrar-nos a que preço. A questão não é ficar sem nome, rejeitar a pergunta 'Quem sou eu?', mas dar continuidade à conversa sobre a identidade. É esse o trabalho da psicoterapia: aprender a assumir uma identidade e a questioná-la. Esse é um dos principais modos pelos quais falar ajuda".
Luepnitz, Deborah Anna. Os porcos-espinhos de Schopenhauer: a intimidade e seus dilemas. José Olympio: Rio de Janeiro, 2006. p. 190.

Registro do simbólico - Lacan

"Antes mesmo de falarmos, já falam de nós. Antes de sermos amados e segurados no colo da mãe e de outras pessoas, antes do nascimento e, às vezes, anos antes de sermos concebidos, já fomos objeto da fala. Em algumas famílias, espera-se - ou teme-se - a chegada de um filho ou uma filha desde longa data. Noutras, uma criança pode ser concebida como substituta de um bebê ou um parente morto. Ricos e pobres, doentes e sadios, os pais imaginam toda sorte de coisas para seus filhos. Essas expectativas - juntamente com o discurso cultural sobre o valor dos filhos masculinos e femininos, nascidos dentro e fora do casamento, de pais jovens e velhos, heterossexuais e homossexuais - não podem deixar de afetar a subjetividade dos filhos, sua maneira de dizer 'eu sou'. Às vezes, tudo o que a pessoa sabe sobre essa história complexa de ser objeto da fala é seu nome e quem é seu xará. Os nomes, que nos são dados com um gesto ilusioriamente simples, são recheados de esperança, rememoração e medo".
Luepnitz, Deborah Anna. Os porcos-espinhos de Schopenhauer: a intimidade e seus dilemas. José Olympio: Rio de Janeiro, 2006. p. 188.

Citação de uma observação da romancista Fay Weldon

"A maior vantagem de não ter filhos deve ser a possibilidade de continuar acreditando que se é uma boa pessoa. Depois de ter filhos, a gente compreende como começam as guerras".
Luepnitz, Deborah Anna. Os porcos-espinhos de Schopenhauer: a intimidade e seus dilemas. José Olympio: Rio de Janeiro, 2006. p. 15

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Linguagem

"Todas as nossas línguas são frutos da arte. Durante muito tempo. Durante muito tempo se procurou saber se havia uma língua natural e comum a todos os homens. Sem dúvida, existe uma: é a que as crianças falam antes de saber falar. Não é uma língua articulada, mas é acentuada, sonora e inteligível.
(...)
À linguagem da voz junta-se a do gesto, não menos enérgica. Esse gesto não está nas débeis mãos das crianças, está em seus rostos. É espantoso como essas fisionomias que mal se formaram já têm expressão. Seus traços mudam de uma hora para outra com rapidez inconcebível; neles vedes o sorriso, o desejo, o terror nasceraem e passarem como relâmpagos e a cada vez credes ver um novo rosto. Certamente elas têm os músculos da face mais móveis do que nós. (...)
A criança sente as suas necessidades e, não podendo satisfazê-las, implora o socorro de alguém através dos gritos: se tem fome ou sede, chora; se sente muito frio ou muito calor, chora; se precisa de movimento, mas a mantêm em repouso, chora; se quer dormir, mas a agitam, chora. Quanto menos dispôe de sua maneira de ser, mais ela exige que a mudem. Só tem uma linguagem, porque só tem por assim dizer, um tipo de mal-estar; na imperfeição de seus órgãos, não distingue suas diferentes impressões. Todos os males formam para ela uma sensação de dor.
Desse choro, que acreditaríamos ser tão pouco digno de atenção, nasce a primeira relação do homem com tudo o que o cerca. Aqui se forja o primeiro elo da longa cadeia de que é formada a ordem social".
Rousseau, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da educação. 3 ed. Martins Fontes: São Paulo, 2004. p. 53-54.

Sobre a educação das crianças 2

"Ela [a criança] seria mais bem educada por um pai judicioso e limitado do que pelo mais hábil professor do mundo, pois o zelo suprirá melhor o talento do que o talento ao zelo".
Rousseau, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da educação. 3 ed. Martins Fontes: São Paulo, 2004. p. 26.

Sobre a educação das crianças

"Não se trata de ensiná-la a suportar as dificuldades, mas de exercitá-la para senti-las. Só se pensa em conservar o filho; isto não é o suficiente; é preciso ensiná-lo a se conservar enquanto homem, a suportar os golpes de sorte, a desafiar a opulência e a miséria (...)".
Rousseau, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da educação. 3 ed. Martins Fontes: São Paulo, 2004. p. 16

Pensamento de Tertuliano Máximo Afonso

"As palavras são o diabo, nós a crer só deixamos sair da boca para fora aquelas que nos convêm, e de repente aparece uma que se mete pelo meio, não vimos de onde surgiu, não era para ali chamada, e, por causa dela, que não é raro termos depois dificuldade em recordar, o rumo da conversa muda bruscamente de quadrante, passamos a afirmar o que antes negávamos, ou vice-versa (...)".
Saramago, José. O homem duplicado. Caminho: Lisboa, 2002. p. 211.

Tertuliano Máximo Afonso conversando com seu senso comum

"Há pessoas para quem é o mesmo aquilo que fizeram e aquilo que pensaram que teriam de fazer, Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução".
Saramago, José. O homem duplicado. Caminho: Lisboa, 2002. p. 34.

Fernando Sabino, em carta à Clarice Lispector

"Confesso mesmo que, de minha parte, andei até meio podre de um lado, mas é justamente desse lado do fruto já meio comido de passarinho é que se está mais próximo da semente".
Sabino, F. e Lispector, C. Cartas perto do coração. Record: Rio de Janeiro, 2003. p. 190.

Fernando Sabino, em carta à Clarice Lispector

"O importante não é dizer, é saber. Certas coisas não se dizem, porque dizendo, deixam de ser ditas pelo não-dizer, que diz muito mais".
Sabino, F. e Lispector, C. Cartas perto do coração. Record: Rio de Janeiro, 2003. p. 143.

Fernando Sabino, em carta à Clarice Lispector

"Você me desculpe esse silêncio tão longo, mas a convivência é feita também de silêncio, e distância".
Sabino, F. e Lispector, C. Cartas perto do coração. Record: Rio de Janeiro, 2003. p. 131.

Clarice Lispector, em carta à Fernando Sabino

"Sempre quis 'jogar alto', mas parece que estou aprendendo que o jogo alto está numa vida diária pequena, em que uma pessoa se arrisca muito mais profundamente com ameças maiores".
Sabino, F. e Lispector, C. Cartas perto do coração. Record: Rio de Janeiro, 2003. p. 111.

Fernando Sabino em carta à Clarice Lispector

"Tem de fazer isso todos os dias, para os outros como se na vida você não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário seu número será um fracasso".
Sabino, F. e Lispector, C. Cartas perto do coração. Record: Rio de Janeiro, 2003. p. 28.

François Rabelais, citado por Mario Sergio Cortella

"Conheço muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam".
Cortella, M. S. e Taille, Y. L. No labirintos da moral. Papirus: Campinas, 2005. p. 108

Ernest Jones, citando trecho de uma carta enviada a ele por Freud

"Naquela ocasião [A interpretação dos sonhos] apresentei o desejo de matar o pai e agora [Totem e tabu] apresento o assassinato mesmo".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud em "Formulações sobre os dois princípios de funcionamento mental"

"O artista é o homem que se recusa a aceitar as necessárias privações da vida e se volta da realidade para o mundo de fantasia, onde seus desejos insatisfeitos recebem gratificação imaginária. No entanto, ele então usa seus dons especiais para encontrar um retorno para a realidade, ou uma nova forma dela, pela criação de obras que recorrem a insatisfações semelhantes em outras pessoas".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud em Jarbuch, 1908

"Esses pacientes [obsessivos] não sofrem de idéias obsessivas tanto quanto de uma maneira obsessiva de pensar".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud em "O Mecanismo da Paranóia"

"A paranóia decompõe, enquanto a histeria condensa".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud em Jarbuch, 1908

"Como são extropiadas nossas tentativas de reproduzir uma análise; como despedaçamos lamentavelmente essas grandes obras de arte que a Natureza criou na esfera mental".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud numa Ata de reunião da Sociedade de Viena de 1907

"Em geral um ser humano não pode suportar extremos opostos em justaposição, sejam eles em sua personalidade ou em suas reações. É esse esforço de unificação que chamamos de caráter. Em relação a pessoas próximas de nós, as emoções extremamente opostas podem ser tão fortes a ponto de se tornarem completamente insuportáveis".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud em "Tratamento Mental", 1904

"[Freud] refuta a idéia de que a psicanálise é uma forma de sugestão, afirmando que há 'a maior antítese possível' entre as duas. Para ilustrar isso, citou o contraste que Leonardo da Vinci havia feito entre pintura e escultura. A primeira trabalha per via di porre, acrescentando algo - tinta - à tela branca, assim como a sugestão consiste em acrescentar algo que se espera vá contrapor-se às idéias mórbidas. Por outro lado, a escultura trabalha per via di levare, retirando da pedra bruta tudo o que oculta a superfície da futura estátua nela contida, assim como a análise revela o que anteriormente estava oculto".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud em "Os direitos da Psicanálise ao interesse científico", 1912)

"Mitos, religião e moral podem ser encarados como tentativas de obter compensação para as satisfações que não podem ser encontradas na realidade. (...) A arte é uma forma especial da tentativa de fazer - tanto para o artista quanto para o público - os desejos que não encontram satisfação por outros meios. 'A arte constitui um território intermediário entre a realidade negadora e o mundo de fantasia realizador de desejos' (Freud)".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Ernest Jones, citando Freud na 1ª Conferência na Clarck University, Massachusetts, 1909

"Ele comparou o valor da psicanálise para o psiquiatra com a da histologia para o anatomista e criticou os opositores que emitiam julgamento sem se incomodarem em aprender seus métodos, tal como um anatomista que repudiasse nosso conhecimento de estruturas mais finas recusando-se a usar um microscópio".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Freud, em carta à Putnam

"A indignidade dos seres humanos, mesmo dos analistas, sempre me causou profunda impressão, mas por que as pessoas analisadas seriam completamente melhores do que as outras? A análise favorece a unidade, mas não necessariamente a bondade. não concordo com Sócrates e Putnam quando dizem que todas as nossas faltas provêm da confusão e da inorância. Acho que se impõe uma carga muito pesada à análise quando se pede a ela que possa realizar todos os preciosos ideais"
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Freud, em carta à Putnam

"Tenho um temperamento ansiosos, e não audacioso, e de boa vontade sacrifico muita coisa para ter a sensação de estar em terreno firme".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

Alfred Noyes, a partir de Virgílio

"Feliz é aquele que pode alcançar as causas das coisas, pois assim domina todo o medo e é posto acima do destino".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 2.

domingo, 18 de abril de 2010

Meynert

"Eu gostaria de dizer, em geral, que toda filosofia - toda aceitação humana da sabedoria até onde a história alcança - tornou claras apenas duas conclusões mas quais o ponto de vista daqueles que fizeram uso do pensamento de toda humanidade difere do ponto de vista do homem comum. A primeira conclusão é a de que tudo no mundo é apenas aparência e a aparência não é idêntica à essência das coisas; a segunda é a de que mesmo a liberdade que sentimos em nós mesmos é apenas aparente".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Freud, 1899

"Sei disso [que o texto que escreveu não estava bom], mas a minha parte que sabe disso, e sabe como considerar essas questões, infelizmente nada produz".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Freud, 1899

"A única felicidade é a satisfação de um desejo infantil. (...) Por isso é que a riqueza traz tão pouca felicidade; o dinheiro não era um desejo na infância"
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Freud, em carta à Fliess, quando da sua auto-análise

"Acredito estar em um casulo, e só Deus sabe que tipo de fera saíra dele".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Freud

"Sempre acho estranho quando não consigo entender alguém em termos de mim mesmo".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Freud

"Suportar as verdades nuas
E encarar os acontecimentos com calma,
Eis o máximo de soberania".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Alfred von Bergner, 1895

"Vagamente concebemos a idéia de que um dia seja possível aproximar-se do segredo mais íntimo da personalidade humana. A própria teoria [psicanálise] não é nada além da espécie de psicologia usada por poetas".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.

Freud em carta para a noiva

"Quem tem muito contato com a vida, tem de perdê-la [a inocência] e em seu lugar construir um caráter".
Jones, Ernest. A vida e a obra de Sigmund Freud. Imago: Rio de Janeiro, 1989. v. 1.