Coisa alguma, no entanto, é permanente neste mundo. Embora eu possa ter estado ontem no maior pique, hoje uma mordida do demônio tricéfalo das aflições universais pode ter me enchido de aborrecimento. As três cabeças do demônio são: tédio, dúvida (conflito) e dor.
O que fazemos quando o sofrimento se apossa de nós no curso da vida diária? Se continuamos fascinados por nós mesmos, cultivamos fugas. Em uma fuga às vezes obsessiva do tédio, buscamos uma novidade - uma nova companhia ou um novo videogame - como um escudo contra aquele demônio particular. Para evitar a dor do desconforto, vamos atrás do prazer: alimento, sexo, drogas, tudo isso. E nos ancoramos em sistemas fechados de crença, como um seguro para prevenir a dúvida. Coitados de nós, todos esses esforços representam apenas mais condicionamento.
Tentar solucionar os problemas do vazio interior e da dúvida com plenitude externa ou rigidez interna é um método clássico, materialista. Se pudermos mudar o mundo (e os outros, como parte desse mundo), não teremos de mudar a nós mesmos. Ainda assim, uma vez que a realidade não é estática, nós mudamos: tornamo-nos cínicos ou escorregamos para uma desesperança embotadora da mente. Flutuamos entre picos e fossas, vales e montanhas, e a vida se torna uma viagem numa montanha-russa, um melodrama barato, uma novela de televisão".
GOSWAMI, Amit. O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2008. p. 272.
terça-feira, 4 de junho de 2013
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